quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Whatever Works - Woody Allen


Tudo pode dar Certo é um filme divertido. Sempre achei interessantes as pessoas que têm uma certa dose de angústia e mau-humor em suas almas, o que as torna divertidas (eu desconfio dos bonzinhos demais). Sempre desconfiei também que as pessoas mais espertas são aquelas que, de algum modo, escolhem "dar um pouco errado" na vida, ser gauche, como diria Drummond. Em algum ponto da trajetória, elas percebem que a única fonte real de sofrimento é tentar corresponder às expectativas dos outros e desencanam de vez. Aí, vivem com menos, mas fazem o que gostam, dão valor aos encontros e aproveitam cada dia, cada ida à banca ou ao bar da esquina.

E é assim que o aparentemente ranzinza, fracassado e inflexível Bóris (interpretado com mérito por Larry David, co-criador de Seinfeld) encontra sua redenção. Ele faz uma retrospectiva mostrando como passou de profissional admirado, indicado ao prêmio Nobel, casado com uma bela mulher e dono de um apartamento luxuoso a professor de xadrez nas ruas de Nova Iorque, encarregando-se de repreender crianças dispersas e enfrentar a ira de seus pais. O que levou Bóris a esta mudança foi uma crise de pânico - e uma tentativa de suicídio- decorrente da constatação de que vivia uma vida sem sentido, sem alma, metódica e pouco estimulante. Enfim, ele chutou o balde e foi morar num apartamentinho pequeno e velho, mas com muita personalidade, onde podia ouvir seus velhos discos de música clássica sem ninguém reclamar. E sua maior diversão passou a ser a convivência diária com os amigos, as discussões, as implicâncias e as brincadeiras.

Deste modo, por estar distraído, Bóris acabou esbarrando com Melody (Evan Rachel Wood), uma moça que é a sua antítese, um sopro de ingenuidade interiorana, de sorriso fácil e mente vazia. E isso se tornou irresistível para Bóris. Ela era a utopia...o quadro em branco para o artista pintar. Um pacto de convivência foi criado, eles se casaram. Ela fez com que Bóris a levasse a lugares onde ele nunca pisaria e aceitasse sua enlouquecida família. Já ele a encarou como sua aprendiz e a encaixou em sua rotina. Nestas cenas, vemos a beleza do que sabemos ser insustentável...e sentimos vontade de pronunciar whatever works!

Outra reviravolta, contudo, muda o rumo da história e as peças do jogo mudam de lugar...No fim, com um sorriso no rosto, lembramos do aviso que Bóris nos dá, no início do filme: "Se vieram ver um filme leve, agradável, podem ir embora. Este filme não é agradável". Impossível não discordar de Bóris/ Allen! O filme nos deixa com a sensação de que a vida pode ser boa, realmente boa, e de que tudo pode dar certo desde não nos preocupemos muito em definir o sentido deste certo. Whatever works!

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