terça-feira, 27 de outubro de 2009

Breakfast at Tiffany's




Eu e Gi assistirmos juntas Breakfast at Tiffany's (Bonequinha de Luxo), com Audrey Hepburn, um dos meus filmes preferidos. E aqui vão motivos que nos levaram a adorar o filme e renderam uma noite daquelas inesquecíveis.

  • É deslumbrante a cena inicial, com Audrey, ou melhor Holly Golightly, andando pelas ruas de New York, em plena luz do dia, com um longo preto simplesmente perfeito (aquele decote arrasador nas costas), o coque lindo nos cabelos e as voltas de pérolas adornando o pescoço.
  • A câmera se apaixona por Audrey a todo instante, como um homem admira a mulher que ama. E ela sorri com um ar sapeca, pois sabe disso.
  • A personagem Holly é um caso à parte. Um ser excêntrico, uma mulher sedutora, divertida, distraidamente irresistível.
  • Os móveis e objetos do cenário da casa de Holly são engraçadíssimos: um sofá que é metade de uma banheira, por exemplo. Na parede, pôster do Rio de Janeiro. E o "cat", o que dizer dele?
  • Adoramos a cena singela e linda do anel na caixa de biscoitos e a ida dela com Paul Varjak até a Tiffany´s para comprar algo por menos de dez dólares. E o vendedor da joalheria, com toda a classe, recebendo o anel da caixa de biscoitos para gravar o nome dela, sem destruir o romantismo do momento.
  • As roupas! Apesar do filme ser antigo, peguei a Gi suspirando diversas vezes por aqueles modelitos. Ela ficou espantada de ver que Audrey já usava, nos anos 60, óculos escuros que hoje são fashion.
Poderia passar o resto da noite aqui, listando cenas encantadoras. O que ficou marcado, porém, foi a percepção aguçada da Gi, que comentou: ela, a Holly, é um personagem que ela mesma criou para lidar com o mundo. Por isso ela é assim, meio louquinha, né mãe? Aprendemos juntas, também, o que é classe, classe de verdade. Classe é saber se fazer bela com um roupão e uma toalha enrolada na cabeça! O filme também aborda bem a questão dos valores materiais e espirituais. Apesar de Holly e Paul serem "garotos de programa" (adorei o comentário de David Gilmour a esse respeito: Audrey, uma simples prostituta? Nunca, é incompatível!), aparentemente em busca de dinheiro, eles são felizes com as pequenas "bobaginhas" da vida. Divertem-se ao brincarem com máscaras de bichos numa loja tipo $1,99. Passeiam juntos pela cidade sem um centavo no bolso. Apoiam um ao outro mesmo nos piores momentos.

Enfim, um filme de amor que faz suspirar, mesmo num contexto de crimes, bebedeiras, prostituição, abandono, tragédia familiar, etc. 

Acho que começamos bem. No dia seguinte, a Gi foi na internet procurar fotos da tal "bonequinha". Selecionou roupas pra postar no seu blog (sim, ela tem um!) e, mais uma vez, encantou-se com a elegância e beleza de Audrey. Amou o vestidinho rosa com tiara de princesa que ela desfila em uma das cenas.




domingo, 25 de outubro de 2009

Hannah Arendt


Hannah Arendt
(1908-1975)
Estudos da condição humana: a complexidade, a perplexidade e a esperança.

Hannah foi uma sobrevivente. Foi um gigante. Uma judia alemã que se refugiou do nazismo. Uma mulher fora dos padrões da época em que viveu. Dona de inteligência ímpar, era rebelde e independente. Foi expulsa da escola por liderar um boicote contra um professor que a teria insultado. Estudou sozinha para ingressar na faculdade. Viveu um tórrido e perturbador romance que entrou para a história, com o filósofo Martin Heidegger.

Em 1924, Hannah foi aprovada, com distinção, na Universidade de Berlim, onde estudou grego, latim e teologia. Decidida a se dedicar aos estudos de filosofia, ingressou na Universidade de Marburg, onde conheceu Heidegger. Sua história com o filósofo ficou marcada por um paradoxo desconcertante. Heidegger, considerado um acadêmico brilhante, demonstrou um tom "no mínimo displicente" em relação à crítica aos ideais nazistas. Ela, que era alvo dessa perseguição, explicitou sua discordância em relação à postura do amante, evidenciando-a em cartas dirigidas aos amigos. Manteve, contudo, o vínculo com o filósofo, além de ter difundido o pensamento dele nos Estados Unidos.

Aqueles que conhecem o legado notável de Hannah, no campo da filosofia, conseguem compreender essa atitude aparentemente paradoxal. É que ela mergulhou profundamente nos estudos da condição humana, reconhecendo a falibilidade nela contida e sua amarração a fatores culturais, políticos e sociais. Assim, apesar de se ver perturbada em relação a algumas das ideias de Heidegger quanto à guerra, procurou colocar cada coisa em seu lugar e lutou para que a obra filosófica dele não tivesse sua importância diminuída pela falha de julgamento demonstrada por ele diante das atrocidades cometidas pelos nazistas.

Não por acaso, sua tese de doutorado teve como título "O Conceito de Amor em Santo Agostinho". Arendt analisou, nos textos dele, o conceito de comunidade. Para Santo Agostinho, o sentido de comunidade estava relacionado ao fato de todos nascermos como parte do mesmo gênero humano e compartilhamos do mesmo destino, a morte.

Arendt adotou como base para seus escritos as análises do pensamento filosófico clássico - em seus aspectos morais e políticos, da filosofia cristã baseada em Santo Agostinho e ainda da filosofia de Kant e dos existencialistas: Kierkegaard, Husserl e Heidegger.

Suas obras, "As origens do Totalitarismo" e a " A Condição Humana" revolucionaram o pensar filosófico. Em "A Condição Humana", publicada em 1958, ela procura responder à pergunta: o que estamos fazendo? E, a partir de três categorias de atividades da vida ativa - o labor, o trabalho e a ação - aponta para a destruição das condições de existência do ser humano no mundo moderno, operada pela sociedade de massa. Hannah detalha, então, as três categorias: o labor - ligado às atividades básicas que o homem desempenha para assegurar sua sobrevivência; o trabalho, que consiste nas transformações que ele exerce na natureza com a finalidade recriar o espaço físico com base em sua experiência humana; e a ação, que se baseia na interrelação entre ele e seus pares para assegurar as condições de sociabilidade e continuidade da espécie. Quanto aos esforços direcionados a esse último aspecto, Hannah sugere o emprego de duas potencialidades da própria ação: o perdão e a promessa. E explica que o que deve ser perdoado é o agente, e não o ato negativo. Dessa forma, os horrores nazistas compõem um fato histórico para o qual não há perdão. Já quanto aos homens que cometeram essas atrocidades, perdoá-los (o que não significa não puni-los) reconcilia a humanidade com seu processo evolutivo, enterrando-se as mágoas com aqueles que as causaram. O perdão, ela coloca, é um ato de amor que alivia o sofrimento das vítimas e permite que a sociedade continue dentro dos trilhos quanto à sua busca pelo real sentido do comunitário.

Quanto à promessa, Hannah defendeu que "a solução para o problema da imprevisibilidade, da caótica incerteza do futuro, está contida na faculdade de prometer e cumprir promessas". Somente assim, ela dizia, o potencial construtivo do ser humano seria mais forte do que seu potencial destrutivo.

Hannah se envolveu intensamente com o pensamento político de seu tempo, chegando a se classificar não como filósofa e sim como teórica política. Nunca esteve, porém, presa a escolas acadêmicas, partidos políticos e linhas ideológicas. Aprofundou-se na análise da banalidade do mal, esclarecendo que muitas das ações maldosas do homem advinham não de uma "genética da maldade" , de um mal em estado puro, mas sim da incapacidade desse homem de pensar por conta própria e da execução automática de tarefas impostas pelo avanço técnico do mundo, em detrimento de um avanço humanista.

No fim de sua vida, Hannah começou a escrever a obra "A Vida do Espírito", que permaneceria inacabada. E dividiu os conteúdos em três partes: o pensamento, a vontade e o juízo. Sua preocupação consistia em indagar como podemos, sem nos ausentar do mundo, manter um afastamento necessário para chegarmos à compreensão das coisas. Fundamental, para Arendt, não era educar ou convencer as pessoas, mas sim levá-las à reflexão sobre os acontecimentos de seu tempo, de forma a superar as adversidades pontuais e avançar naquilo que realmente significaria melhoria da condição de vida humana.

Hannah Arendt foi uma mulher que nunca se enquadrou e que, por isso mesmo, enxergou a vida humana com o afastamento necessário para compreendê-la melhor e contribuir para sua transformação. O que, aliás, é próprio das mentes geniais, sempre à frente de seu tempo. Incompreendidas em sua época, louvadas em um tempo futuro.

Fonte de consulta: Texto de autoria de Cláudia Perrone Moisés, publicado no jornal Valor Econômico, de 14 de outubro de 2006.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

A chuva



Os passos incertos. Olhos fechados. A chuva.
O barulho que as gotas d´água fazem quando caem.
É diferente no telhado, nas flores e dentro de mim.

O vento é frágil, mas muda tudo sozinho.
Os olhos. Não servem mais.O cheiro da terra.
Lembra! eu disse uma vez, eu erro, você erra.

Caminhei . E o sonho escorria pelo meu rosto.
Não tive medo, era um jeito de ser feliz.
Os olhos fazem parte. Foi o que eu li:
"A alegria é a aceitação, sem restrições, da realidade".



F.



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