terça-feira, 27 de janeiro de 2009

O escafandro e a borboleta


Um filme que coloca em perspectiva aquilo que menos nos aflige, mas só enquanto temos: vida.

A mãe do presidente



Na vitória de Barack Obama há um aspecto original que não vem sendo notado. Além do fato mais óbvio de Obama ser o primeiro negro eleito para a presidência dos Estados Unidos, chama atenção que em sua vida há uma vitória, sem ruído, de pessoas “derrotadas”, ou marginalizadas na cultura da sociedade norte-americana. Para ser mais preciso, na sua vitória há uma vitória muito especial da sua mãe.

A mãe de Obama, Stanley Ann Duham, foi uma pessoa rara já a partir do nome com que foi batizada. O pai queria um filho homem, e se compensou , ou se vingou, impondo-lhe um nome de homem. Para quê? O bom da vida são as limonadas que fazemos dos limões que nos atiram. Stanley Ann, para a sociedade americana em 1960, não demorou a mostrar a que veio. Aos 18 anos, conheceu o negro Barack Hussein Obama na Universidade do Havaí, em uma aula de... russo! Branca, namorou o jovem queniano, casou.... queremos dizer, juntou suas roupas e livros às dele, e teve Barack Hussein Obama Jr. Como a estabilidade não era bem o seu ideal, separou-se poucos anos depois.

Em 1964, ainda irrecuperável, Stanley Ann voltou à faculdade para se formar e casar à sua maneira mais uma vez: uniu-se a um estrangeiro não-branco, o indonésio Lolo Soetoro.Stanley Ann era não só diferente, rebelde, por intuição. Antropóloga, escreveu uma dissertação de 800 páginas sobre os trabalhos de serralheria dos camponeses de Java. Trabalhando para a Fundação Ford, defendeu o direito das mulheres trabalhadoras e ajudou a criar um sistema de microcréditos para os pobres. Maya Soetoro-Ng, a meia-irmã de Obama, afirmou recentemente sobre a mãe: "Essa era basicamente a sua filosofia de vida: não nos limitarmos por medo de definições estreitas, não erguermos muros à nossa volta e nos empenharmos ao máximo para encontrarmos a afinidade e a beleza em locais inesperados”.

Stanley Ann Duham morreu de câncer no ovário em 1995. O pai, a quem Obama dedicara um livro, ele mal viu, depois dos 2 anos de idade. Por isso afirmou, o primeiro homem negro eleito para a presidência dos Estados Unidos: “Eu creio que se eu soubesse que a minha mãe não iria sobreviver à doença, eu escreveria um livro diferente – menos meditação sobre o pai ausente, mais celebração da mãe que era a única coisa constante em minha vida”, escreveu no prefácio de suas memórias, “Sonhos De Meu Pai”. E acrescentou: “Eu sei que ela era a mais gentil, o espírito mais generoso que já conheci e o que existe de melhor em mim eu devo a ela”. Para essa Ann, mulher estranha para os valores dominantes, delicada e rebelde, na campanha eleitoral Obama chamava de a sua "mãe solteira".

O presidente eleito não repete, é claro, o pensamento, os atos e as convicções da mãe. Se assim fosse, não teria chegado aonde chegou. Mas sem as idéias de Stanley Ann Duham, Barack Hussein Obama Jr. não teria tido a mais remota possibilidade de existir. Em lugar do “sonho americano”, que toda imprensa proclama, Obama é antes uma vitória do pensamento e de idéias não-conservadoras, que estavam no limite dos marginalizados hippies. E os hippies, vocês lembram, naqueles malditos tempos acabavam nas prisões, ou como em Easy Rider, sob tiros de espingarda.Em 2008, um filho de mãe solteira, de uma irrecuperável, é eleito presidente.


Fonte: Blog do Marcelo Tas

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Jardim



"Todo jardim começa
com uma história de amor,
antes que qualquer árvore
seja plantada ou um
lago construído é preciso
que eles tenham nascido
dentro da alma.
Quem não planta
jardim por dentro,
não planta jardins por fora
e nem passeia por eles."

Rubem Alves

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Para viver um grande amor


Para viver um grande amor, preciso é
muita concentração e muito siso
Muita seriedade e pouco riso
Para viver um grande amor

Para viver um grande amor, mister
É ser um homem de uma só mulher
Pois ser de muitas - poxa! - é pra quem quer
Nem tem nenhum valor


Para viver um grande amor
Primeiro é preciso sagrar-se cavalheiro
E ser de sua dama por inteiro
Seja lá como for
Há que fazer do corpo uma morada
Onde clausure-se a mulher amada
E postar-se de fora com uma espada
Para viver um grande amor


Para viver um grande amor direito
Não basta apenas ser um bom sujeito
É preciso também ter muito peito
Peito de remador


É sempre necessário ter em vista
Um crédito de rosas no florista
Muito mais, muito mais que na modista!
Para viver um grande amor

Conta ponto saber fazer coisinhas
Ovos mexidos, camarões, sopinhas
Molhos, filés com fritas, comidinhas
Para depois do amor
E o que há de melhor que ir pra cozinha
E preparar com amor uma galinha
Com uma rica e gostosa farofinha
Para o seu grande amor?


Para viver um grande amor, é muito
Muito importante viver sempre junto
E até ser, se possível, um só defunto
Pra não morrer de dor
É preciso um cuidado permanente
Não só com o corpo, mas também com a mente
Pois qualquer "baixo" seu a amada sente
E esfria um pouco o amor


Há que ser bem cortês sem cortesia
Doce e conciliador sem covardia
Saber ganhar dinheiro com poesia
Não ser um ganhador


Mas tudo isso não adianta nada
Se nesta selva escura e desvairada
Não se souber achar a grande amada
Para viver um grande amor!

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Leminski


No fundo, no fundo,
bem lá no fundo,
a gente gostaria
de ver nossos problemas
resolvidos por decreto
a partir desta data,
aquela mágoa sem remédio
é considerada nula
e sobre ela — silêncio perpétuo
extinto por lei todo o remorso,
maldito seja que olhas pra trás,
lá pra trás não há nada,
e nada mais...
mas problemas não se resolvem,
problemas têm família grande,
e aos domingos saem todos a passear
o problema, sua senhora
e outros pequenos probleminhas.

Paulo Leminski

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Dia histórico

A data20/01/2009. Data histórica. Barack Obama é oficialmente o novo presidente dos EUA. O primeiro presidente negro do país. A solenidade teve início ao meio dia (15 h em Brasília) e Obama fez o juramento com a mão sobre a mesma bíblia usada por Abraham Lincoln, em 1861. Ao final, incluiu o "so help me God", que encerra os juramentos desde o séc. XVIII.
Trajetória
Barack é filho de Barack Hussein Obama, um homem negro do Quênia educado em Harvard e de Ann Dunham, uma mulher branca de Wichita, no Estado do Kansas. Nasceu em Honolulu, no Havaí, em 4 de agosto de 1961, e seus pais se separaram quando ele tinha dois anos. Ele morou na Indonésia enquanto criança, após sua mãe se casar com um indonésio, e depois viveu no Havaí, com seus avós. Sua adolescência no Havaí foi marcada por certa rebeldia. Na época, Obama experimentou algumas drogas mas, adotando postura diferente da de Clinton, não tenta mascarar este fato. Prefere responder de forma corajosa aos que vinculam esta passagem de sua vida a uma provável inadequação como homem público: "o americano médio sabe que o que alguém faz quando é adolescente, há 30 anos, provavelmente não é relevante em como vai desempenhar seu papel de presidente dos Estados Unidos".
Com um bom histórico escolar, Obama formou-se em direito na tradicional e renomada Universidade Harvard e trabalhou como professor e defensor dos direitos civis em Chicago antes de ser eleito senador por Illinois, em 2004. Foi em Harvard que Obama conheceu sua mulher, Michelle, com quem se casou em 1992. Em uma campanha que prega o novo, Michelle é um dos pontos altos da ascenção política de Obama. Ela é negra, tem formação universitária e teve participação ativa em toda a campanha. Obama e Michelle têm duas filhas e, apesar dele ser de família que segue a religião mulçumana, converteu-se ao cristianismo, integrando a igreja Batista.
Campanha
Quanto ao que se viu na campanha, Obama demonstra, acima de tudo, ter consciência de que capacidades comunicativas afiadas são fundamentais para a disseminação de idéias junto à sociedade. Sua retórica, baseada na razão, mas não distante da emoção, assegura o carisma e a credibilidade necessários. E suas posturas articuladoras, conciliadoras, pouco raivosas, contribuem para intensificar as distinções entre o way of life democrata x republicano. Pra se ter uma idéia, até beijo de despedida ele deu no casal Bush (hahaha...). Estimulado por concorrer ao cargo executivo mais importante no país onde o marketing se estabeleceu como disciplina, Obama cercou-se de profissionais de alto nível, que consideram as ferramentas mercadológicas como fios condutores capazes de movimentar a dinâmica social. O resultado foi surpreendente: conseguiram colocar "the right thing at the right place".
O que ocorreu foi uma verdadeira "guerra viral", com ações fantásticas, integrando meios e mensagens, sintonizando a força e a juventude das novas mídias, como a internet e os dispositivos móveis, com o poder e a credibilidade das mídias convencionais. Em síntese, o grande pulo do gato de Obama foi fugir dos discursos do tipo "lobo em pele de cordeiro" e desviar (com grande inteligência) dos dilemas morais que apontam o marketing e a publicidade como artefatos para se vender alienação com embalagem bonita. Ou seja, ele investiu em conteúdo, não teve medo de tocar nas feridas do povo americano e de mostrar para o resto do mundo que está sintonizado com todas as aflições globais. E isso é raro em política. Por outro lado, contou com uma equipe que não aceita o rótulo de "marketeira". Se o discurso está certo, tem-se que "distribuí-lo" da maneira correta também. Muito se fala da coroação de Obama como ícone da cultura pop, muito se fala dos "produtos" Obama, que vão de canecas e bottons a wallpapers e vídeos do Youtube, além de outros mimos virtuais. Certo é que se investiu em uma fórmula que muitos conhecem, mas poucos aplicam: conteúdo e forma juntos, e cada um em sua dose certa. Não é apenas efeito midiático, tem isso também, mas há consistência nas idéias. E uma coisa impulsiona a outra.
E agora...
O jogo começará, efetivamente, a partir de agora. Afinal, estratégias de comunicação e marketing não minimizam os efeitos de duas guerras como a do Iraque e a do Afeganistão, não acabam com a crise que eclodiu no setor financeiro americano e contaminou o mundo, não tiram sozinhas a economia americana do buraco e nem "limpam" a enorme sujeira ambiental do país. Por outro lado, elas são decisivas para que se tenha a adesão e a confiança dos cidadãos do planeta (e não somente dos americanos) quanto ao projeto de governo que Obama quer colocar em prática. Ele sabe disso... e vai fazer desse jeito. E nós, profissionais da área, podemos aguardar mais aulas sobre as boas práticas de marketing.
... "So help him, God".

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Conselho



Abrace a tristeza por cinco minutos.
Encare-a.
Beije-a.
E a esqueça.
Cinco minutos.
E prossiga.



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