domingo, 26 de setembro de 2010

Grey Gardens


Grey Gardens é um filme sobre sentimentos. Sentimentos estes que nunca são fáceis de se entender.

Ele conta a história de duas Edith Beales, mãe e filha, parentes de Jackie Kennedy que pertenceram à alta sociedade americana e que viveram reclusas, a maior parte de suas vidas, na decadente mansão Grey Gardens.

Big Edie e Little Edie, como eram conhecidas, conduzem o espectador por uma viagem intimista que explica porque elas, duas mulheres bem-nascidas, bonitas e talentosas preferiram uma vida de privações e isolamento, convivendo com seus gatos, entoando sozinhas suas canções e treinando seus passos de dança. O flashback é motivado por Albert e David Maysles, dois cineastas que foram à mansão para gravar um documentário sobre elas. Em 1975, realmente, eles estiveram com elas e fizeram um documentário que foi exibido no festival de Cannes, em 1976.

Mãe e filha gostavam de música, dança e poesia, viviam como artistas mas, para isso, abriram mão de levar uma vida "socialmente aceitável" e criaram um mundo à parte. Em uma das cenas mais marcantes, Little Edie confronta a mãe, dizendo que ela a manteve aprisionada na mansão, impedindo que fosse realmente feliz. Big Eddie responde, secamente: você nunca esteve aprisionada nesta casa, podia ter ido embora a qualquer momento. Se há algum lugar onde você esteve aprisionada este lugar é dentro de si mesma.

As atuações de Jessica Lange e Drew Barrymore são incríveis e provocam pensamentos contraditórios. Às vezes enxergamos egoísmo e ressentimento e, no momento seguinte, solidariedade e altivez. Prazer e frustração, medo e coragem, são coisas que se misturam. A mansão Grey Gardens, no final das contas, era o único lugar onde elas podiam ser elas mesmas, representava o gesto de rebeldia contra uma sociedade dura, preconceituosa, que só via vantagem nos pactos financeiros. Alí, no meio da sujeira e das coisas gastas, elas encontravam proteção contra quem não as aceitava como eram.

Em outra passagem, as duas conversam:
- Eddie, você só pode ser realmente feliz se não depender dos outros (a mãe, justificando para a filha porque nunca venderia a mansão).
- Mãe, um dia você me disse o contrário: que eu eu só seria feliz se dependesse dos outros (sobre as pressões que a mãe fazia, quando a filha era jovem, para que fizesse um bom casamento).


Este é um filme sensível, diferente, que prende. A história de duas mulheres
singulares e de duas atrizes que representam-nas de corpo e alma.

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